quinta-feira, 20 de maio de 2010

Da caducidade das coisas

Pra começar com uma piadinha pronta e tentar levantar o astral desse blog, ao menos um pouco:
Tudo na vida é passageiro, exceto o cobrador e o motorista!
Ok. Volta a seriedade...

Tudo na vida é perecível, tem seu prazo. Em minhas aulas, costumo dizer aos alunos que na História nada acontece por acaso... o acaso até tem seu poder, mas ele vem ligado a uma falta de validade. As coisas simplesmente se caducificam e tendem para a mudança.

E há algum tempo que procuro entender as formas de amar da sociedade contemporânea... e acho que estamos em um momento de transição entre o moderno e o tradicional. De uma forma bem superficial, seria uma década de 1920 do amor. O amor romântico, invenção burguesa da era das luzes, chega a nossa sociedade e se conflitua com outros valores que hoje não abrimos mão, e termina tornando-se mercado, um produto a mais na sociedade de consumo.

Hoje entramos da "Era das Sensações", sem memórias e sem História. Nada nos parece mais bizarro e tedioso do que aventuras sem orgasmos e sofrimentos sem remédio à vista. Nunca o consumo de alucinógenos ou alteradores de consciência, lícitos ou não, foi tão alto. Aprendemos a gozar com o fútil e o passageiro e todo "além do princípio do prazer" é só um vício de linguagem ou da inércia dos costumes. Em suma, vivemos numa moral dupla: de um lado, a sedução das sensações, o desejo de buscar um fogo ardente e fodam-se os compromissos, de outro, a saudade dos sentimentos, e o desejo de retorno à segurança. Queremos um amor imortal e com data de validade marcada: eis sua incontornável antinomia e sua moderna vicissitude!

Me impressiono cada vez mais com a facilidade com que as novas gerações superam as desilusões... isso é bom? Eu diria que sim, não fossem as circunstâncias... Há um desapego tremendo com aquilo que nos torna sujeito... abre-se mão do passado como quem abre mão de um chiclete mastigado. E pensar que eu, para jogar um simples bilhete de viagem preciso de um grande esforço de desapego... Não é o valor que tem o papel, mas é o valor imprescindível do tempo que ele me remonta... da memória! Cada vez mais os bits e bytes nos fazem abrir mão de nossa própria memória...

É uma pena. Posso ser apenas mais um conservador dentro de uma nova modernidade... mas, nessas horas, aprendo com as lições da História: a ausência de memória, é a ausência de futuro!




Boa parte dessas idéias não são minhas... apenas coaduno com elas. São do livro Sem Fraude nem favor - estudos sobre o amor romântico - de Jurandir Freire Costa.

Um comentário:

Simon disse...
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